"Um cordão umbilical não se falsifica. Ou há ou não há." Almada Negreiros Almada pintouMaternidade quando nasceu o seu primeiro filho, o Senhor Arquitecto José Almada Negreiros, em 1934.
Maternidade
"Nascer é vir a este mundo não é ainda chegar a ser." Almada Negreiros in "As Quatro Manhãs"
"Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia - se é que a sua cegueira não é incurável - e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado". Almada Negreiros, In Manifesto Anti-Dantes e por Extenso, 1915
Alfaiataria Cunha I Alfaiataria Cunha II
Alfaiataria Cunha III Sem título Flor I A Flor "Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração, do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!"Almada Negreiros Flor II
"As pessoas que eu mais admiro são aquelas que nunca acabam". Almada Negreiros
Foi num solarengo Sábado, a 13 de Setembro, que um grupo de professores da Escola João Afonso de Aveiro e seus acompanhantes trilharam um dos primeiros encontros com a vida e obra de José Sobral de Almada Negreiros. Chegados a Lisboa, iniciou-se o percurso com a visita à Fundação Calouste Gulbenkian, onde a professora Margarida Lemos apresentou a obra "Começar", a última criação do Mestre Almada, de um modo simples, conciso e completo. Após a visita à exposição de pintura no Cento de Arte Moderna segui-se a apresentação d' "A Cena do Ódio" interpretada pelo Bruno, no anfiteatro ao ar livre, nos jardins da Gulbenkian. Como leiga que sou, considero que tenha sido um momento único e marcante, quer pela força e ira que saía do fundo de um olhar revoltado e indignado, quer pelo amor e respeito com que abraçou a obra do Mestre, quer pela caracterização e pela expressão que, em determinados momentos, num perfil facetado, esboçava ares de Almada.
Finalizámos a visita na Gare Marítima Rocha Conde de Óbidos onde a carga emocional vivida em despedidas com sabor a um "até nunca", foi por Almada estampada em frescos com um tamanho tão imenso, quanto a saudade que ficava. Todo o percurso teve um sabor especial, graças ao facto de termos sido presenteados e honrados com a companhia do filho de Almada Negreiros - o Senhor Arquitecto José Almada Negreiros -, e sua nora - a Senhora Dona Maria José Almada Negreiros -, cujos apontamentos e testemunhos naturalmente introduzidos no decorrer da visita, ao sabor do que as memórias e o conhecimento revelavam, permitiram um genuíno aproximar do Homem que foi, é e será Almada. Um bem-haja pela sua presença simpática, simples e autêntica. A Doutora Bárbara constituiu também uma presença agradável nessa visita. Aluna de pós-doutoramento, de nacionalidade italiana, desenvolveu os seus estudos de doutoramento sobre a obra de Almada Negreiros. A paixão, encanto, admiração e respeito que nutre pelo Mestre Almada e sua obra têm sido a força motriz para executar um trabalho integrador, paciente e sério, tentando sempre beber das fontes mais fidedignas que incansavelmente procura. Parabéns e força para os passos seguintes.
Palavras, Arte, Geometria e Número em Almada Negreiros constituiram então testemunhos ímpares de inigualável valor que nos encheram de orgulho, talvez por Portugal também neles ser. Não quero, contudo, correr o risco de tomar como nossa uma obra que vale por ser livre, por ser Almada.
Foi então neste contexto que surgiu a ideia de criar a Colecção Almada como forma de lembrar um pouco mais aquele dia. Os brincos foram assim feitos sob inspiração nalgumas obras criadas pelo Mestre Almada. Foi com prazer, entusiasmo e dedicação que fiz cada um. Espero que vos façam sorrir.
Almada Negreiros
Negreiros
"Eu tenho tanta fé na minha estrela, (...) que há-de brilhar ainda quando eu cá não estiver".Almada Negreiros
Almada Negreiros nasceu em S. Tomé e Príncipe a 7 de Abril de 1893. Foi um dos fundadores da revista "Orpheu" (1915), veículo de introdução do modernismo em Portugal, onde conviveu de perto com Fernando Pessoa. Além da literatura e pintura a óleo, Almada desenvolveu composições coreográficas para ballet. Trabalhou em tapeçaria, gravura, pintura mural, caricatura, mosaico, azulejo e vitral. Faleceu a 15 de Junho de 1970 no Hospital de S. Luís dos Franceses, em Lisboa, no mesmo quarto onde morrera seu amigo Fernando Pessoa. O olho de Almada Olho I
Olho II
O menino d'olhos de gigante
[...] Pela serra ao luar ia um menino sozinho sem sono pra se deitar
Ia o menino a pensar porque seria ele só sem sono pra se deitar?
Ia o menino a pensar que há tanto por pensar e a cidade a descansar.
Ia o menino a pensar que se nasce pra pensar e nunca pra descansar.
[...] Ia o menino a arranjar muita força pra pensar e o próprio sonho ganhar!
[...] Veio o gigante de norte disfarçado com o luar, julgava que eu dormia, começa a tirar-me os olhos.
Dá-me os meus olhos, gigante, dá-me os meus olhos, ladrão! os olhos nunca se tiram não servem senão ao dono.
[...] Bem sei que eu sou menino mas esses olhos são meus, se são olhos de gigante foram postos 'qui por Deus. [...] Almada Negreiros, Outubro 1921